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"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."

( Carlos Drummond de Andrade )


quarta-feira, 24 de junho de 2009

Estudantes gravam livros para deficientes visuais

O Projeto Livro Falado ajuda cegos a "ouvir" literatura em uma biblioteca pública

Foto: Divulgação
Foto: Vanessa com alguns alunos em frente a uma biblioteca pública de Curitiba

Vanessa com alguns alunos em frente a uma biblioteca pública de Curitiba

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Cada vez mais escolas (públicas ou não) buscam formas de garantir a inclusão de crianças e adolescentes com necessidades especiais. Para ensinar língua portuguesa a deficientes visuais, por exemplo, é comum associar o ato de ler ao braile, sistema de linguagem que funciona pelo tato. Mas nem todos os jovens já estão preparados para entender esse idioma. É aí que vem à tona a importância dos audiolivros.

A professora de literatura Vanessa Lopes Ribeiro, de Curitiba, no Paraná, despertou para essa realidade junto com suas turmas da 7ª série em 2006. Resultado: já gravaram centenas de obras em CDs e acabaram até faturando um prêmio por isso. Veja a seguir o relato da educadora sobre como a iniciativa deu certo.

“Trabalho em uma escola particular. Como a maioria dos alunos não frequentava a biblioteca pública, decidi incentivá-los a adotar esse hábito. Passei a levar turmas de 7ª série para conhecer a instituição. Nessas visitas, a seção de livros em braile sempre chamava a atenção.

Os estudantes queriam saber como um deficiente visual conseguia ler e se havia opções para quem não domina o braile. Descobrimos que, com o avanço da tecnologia, foram criados os audiolivros - em vez de serem lidos, eles são ouvidos!

Com isso, os deficientes visuais passaram a ter acesso à literatura usando a audição. Na biblioteca de Curitiba, dezenas de cegos ouvem os livros.

Há duas formas de se gravar audiolivros. Uma delas é eletrônica, com programas de informática que simulam a voz humana. A outra é a tradicional: uma pessoa lê o texto e um microfone grava tudo no computador.

Pergunte a um deficiente visual se ele prefere ouvir uma narrativa contada por uma voz eletrônica ou por uma pessoa... Todos gostam da proximidade que só um ser humano é capaz de produzir.

Aí, me perguntei: “Com tantos livros a serem gravados, por que a gente não usa o nosso tempo para contribuir?”. Meus alunos poderiam ajudar muita gente a “ler”. Foi assim que nasceu o Projeto Livro Falado.

Em 2006, fizemos os primeiros registros no gravador que tem no próprio computador. Como não é um gravador profissional, o processo é demorado. Se alguém erra, é preciso voltar, corrigir e gravar de novo por cima. Os erros são muitos, e é preciso ler bastante para pegar o jeito.

No começo, os alunos leem narrativas mais curtas, para não perder o fio da meada. Só depois eles gravam livros mais longos. O interessante é que os estudantes treinam o ritmo da leitura. Eles não só leem mais como melhor.

Cada turma de 7ª série tem 24 alunos. Conseguimos entregar cerca de cem livros por ano. Os alunos são treinados antes de gravar. Preparamos o tom de voz que deve ser usado e as habilidades com o programa de gravação. Livros com qualidade insuficiente são regravados.

Depois de passar pela preparação, cada aluno leva para casa uns quatro livros para ler e gravar. Muitos parentes se entusiasmam e resolvem contribuir.

Acredito muito na importância do Projeto Livro Falado, e o pessoal da biblioteca também. Fomos até premiados no Vivaleitura de 2008, um programa incentivado pelo governo federal. Mas somos muito poucos. Precisamos de ajuda para divulgar essa ideia.

Se outras escolas participassem, poderíamos aumentar o número de livros gravados. Assim, mais deficientes visuais contemplariam a literatura”.

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